domingo, 23 de dezembro de 2012

Nó na garganta...

Hoje, durante todo o caminho para casa que percorri vim concentrada no aperto que trazia comigo...e vim a recordar a conversa que tive e não só hoje, mas durante os últimos dois dias, vim retrospectiva...

Por muito mais que me digam que a crise veio fazer com que as pessoas estejam mais solidárias, isso não deixa de ser uma solidariedade momentânea...espero que assim que estiverem de barriga cheia, não olhem com desdém para quem tem menos e se esqueçam que antes já estiveram assim e se esqueçam que podem vir a estar pior nos tempos vindouros...e pode haver quem nunca lhes valha...

Parece que as pessoas hoje em dia deixaram de se preocupar umas com as outras, vive-se de tal modo num sistema tão consumista, tão limitado que as pessoas quer queiram quer não, dão se como vencidas...e caem num desespero tão grande que por muito mais que se tente esgravatar, há-de haver sempre um filha da puta para nos tentar deitar ainda mais abaixo, que nos tente enganar, que nos tente oprimir, têm gosto em fazer mal uns aos outros, sádicamente e isso não tolero...nem comigo, nem com ninguém...

Falta-nos humanismo, deixámos de pensar no colectivo, não nos conseguimos colocar no lugar do outro...não querem, sequer darem se ao trabalho de o fazer...e como alguém disse...contribuiu-se para engrandecer a bola de merda...

Não se consegue ter consciência assim tão facilmente da troca de posição, e isso é tão frustrante...dá me ideia que se entregam à sua própria desgraça quando se esquecem de que vivemos tod@s num poço nojento e se não conseguirmos fazer a diferença connosco mesmo, nunca vamos conseguir mudar nada...e isso tem de começar inicialmente dentro de nós...custe o que custar...doa o que doer...

Passo a portagem da autoestrada e ao pagar digo ao portageiro: " Hey, se você e os seus colegas durante um dia deixarem  todos de cobrar os tickets, isso é que era?!" - "Não, respondeu me prontamente, sou despedido, quem me traz o pão à mesa, quem alimenta os meus filhos?!" "Falta-vos união, duvido que o patrão vos despeça todos ao mesmo tempo durante ou até após o vosso boicote...chefe... é Natal...pensem
nisso, não vistam a camisola do opressor, porque são vocês os principais causadores da vossa opressão" - apelando ao irónico sentimento "solidário da época", arranquei com o carro, segui o meu caminho...mas vim a pensar não só na resposta do portageiro, mas na imensidão de pessoas que conheço que sofrem do mesmo mal...do medo e muitas com medo de si próprias...de arriscar...de arriscar algo que as faria sentir mais fortes ao ultrapassarem as suas barreiras interiores...em se sentirem vencedores consigo mesmo...e unid@s...consegue se vencer o sistema...ou pelo menos abaná-lo...

Voltando ao portageiro, não deixa de ter razão, seria supostamente despedido, mas eles vão ser despedidos na mesma, continuam a substituir mão de obra por máquinas e se fossem todos despedidos colectivamente, quando tempo a empresa  demoraria a repôr todos os postos de trabalho?! Pois é, são apenas pormenores...mas são pormenores que depois se vê como resolver...em colectivo...e ali no acto da revolta...que tal ocuparem as cabines...todos...e venha lá quem vier...chamem me complicada, mas seria tudo tão simples se se criasse mais soluções em vez de se alimentarem problemas em cima de problemas...que já existem...

Continuo com o nó na garganta, pensei que se fosse embora se passasse a preocupação e os sentimentos cá pra fora...mas não...tenho esperança que amanhã me aconteça algo que me faça esquecer tanta podridão e que me dê vontade de sorrir...que me tire esta corda que tenho agarrada ao pescoço, esta puta desgraceira que nos rodeia em que cada um nasce, cresce, sobrevive e morre sem ter feito nada sobre si próprio que o transcenda...em sua prol e em prol dos outros...e assim se foi mais uma vida que poderia ser importante ao seu semelhante e por puro "egoísmo inconsciente ou falta de amor próprio" prefere ostracizar-se a si mesmo como se não tivesse mais luz dentro de si...



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Confesso...

Que há dias em que gostava de ter outra vida...ser menos agressiva...não consigo, já disse...
Esta merda é para se viver...sempre de cara erguida, de punho no ar...
Confesso que há dias em que gostava que os sonhos se tornassem realidade...
Sonhar demais por vezes faz nos mijar na cama e a mim há coisa de dias aconteceu-me isso, sonhei novamente com o mesmo sonho, estava dentro do útero da minha mãe e a minha cama encheu-se de um odor a rosas ao acordar, quando saí abri os olhos, vi um indio...um indio com um grande moicano que na sua agressividade era meu irmão...e juntos lutámos como dois rivais da mesma aldeia...e no fim...volto a sonhar com o mesmo duas noites seguidas...

Confesso que ainda hoje quando me lembro desse odor me sinto como um índio deslocado da sua tribo...

Gostava de poder decifrar sonhos para os interpretar, mas isso poderá não estar ao meu alcance enquanto sensitiva...os sonhos serão premonitórios? Irá resistir aqui a minha dúvida...até encontrar algo que me diga o significado...

Os índios eram livres até a ocupação das suas terras e por vezes sinto que ocupam a minha mente com teorias...odeio teorias...por muito mais que leia...nada do que leio me diz nada a não ser quando as mesmas forem postas em prática, para que eu possa ter a prova viva de que funcionam...e aos poucos vou tendo a prova de que muitas não passam de balelas...por isso sou agressiva em muitas coisas que faço...e no que digo...os extremos...

Li tanto sobre psicologia e parapsicologia durante o meu exílio que se fosse possivel colocar em prática tudo o que li, dominaria o mundo...e os outros...mas eu não quero dominar o Mundo nem ninguém, não entendo ou melhor até entendo mas não quero sequer saber a razão pela qual a merda de sociedade que temos nos quer dominar, oprimir, influenciar, deprimir, enganar...e não só...muita gente próxima de mim me tentou fazer o mesmo e muitos ainda continuam a tentar...ao inicio ainda fui comendo os engodos, muitas vezes faço-os pensar que sim...e é este nervosismo que eu não consigo entender...

Estou farta de injustiças, de jogos de poder, todos os dias sou confrontada com merda, com autoritarismos, com manipulações..com amig@s a serem ameaçados...com pessoas a morrerem a cada dia que passa por falta de condições...por falta de oportunidades...com falta de solidariedade, com nojos...com jogos psicológicos onde quer que vá...foda-se...vão se foder...

Mas quando abro os olhos...sou agressiva e vou continuar a ser...e vou continuar a combater tod@s os que me tentem passar a mão pelo pêlo e mandar areia para os olhos...

Ainda hoje um vizinho me veio foder os cornos porque não fecho o portão comunitário onde tem escrito a letras gordas:" Proibido a entrada a estranhos" e um sinal vermelho de sentido proibido - Foda-se, as redes à volta estão todas cortadas, desculpa-se com os ciganos, vai-te foder, cabrão, nazi, xenófobo, com os ciganos vivi eu...disse-lhe...sei como funcionam...

Vou continuar a abri-lo...mas só metade...para a guerra não ser assim tão bruta...e vou fechá-lo à noite...para que as toupeiras não lhe venham comer os rebentos subterrâneos...foda-se...e já tou mesmo a ver a perseguição...a partir de agora...aposto que se vai colocar atrás da janela a controlar as minhas saídas...a ver se sou bem mandada...vá-se foder...com o seu controle...

Teorias do mundo...teorias do medo...puta que os pariu...todos fechadinhos como se isto fosse um condomínio de luxo...

Odeio esta sociedade que temos...um dia deito-lhe o fogo...e seria lindo no alto de uma colina ver as colunas de fogo transformarem o céu vermelho...começava pelas igrejas...acabava nos ministérios...e ás tantas ainda passo pelos vizinhos...

Babilonia...burns...burns...

Carbonizava tudo...reduzia tudo a cinzas...destruir para construir...
Tenho sede e tenho fome de destruição...muitas vezes logo pela manhã...

Resistirei até ao último folego...
Venha quem vier...
E vou estar na linha da frente...sentir o sangue pulsar no meu peito...quero fúria consciente...adrenalina...quero irmandade...quero vida...e quero lá saber o que pensam...o que julgam...quero lá saber...

Nazis do caralho...filhos da puta que me fazem chorar...de raiva...nem à pedrada...por mim iam todos direitinhos para a fornalha...










domingo, 16 de dezembro de 2012

Kaos escreve...

Levanta as mãos...e solta a língua que nos faz tremer o interior...
Dança...
Vibra...
Eleva-te...
Vive...
Controla o teu poder...estratega minucioso...

Nada te poderá deter se tu investires na prática das tuas forças...
Ocupa a tua mente...libertas a união da tua existência cada vez que silencias os que se sentem culpados da sua vil conspiração...
Sente a vida até ao limite do infinito...
Urge o tempo...na tua virtude...
Afasta de ti todas as tuas fúrias...

Livra-te das intempéries grotescas...
Une-te à simplicidade das tuas ideias...
Serás o confronto da tua existência...
Na ordem da tua natureza reside a luta sangrenta pela inodora dor...
Escrevo através das tuas mãos...víbora paciente que espera pelo temível caçador...
O ágil devorador conspira contra o que lá vem...será presa fácil da sua artimanha...

Incorpora-me...farei parte da tua energia...quando assim o quiseres...
O entendimento supremo só a nós diz respeito...esquece o que os outros possam sentir...
Deixa-os falar...
Caos reina em prol da tua sabedoria astuta...
Pois a servidão interior será escravizada na sua própria frustação...
Delirium atroz que lhe salva as entranhas...que no fim será restolho de fornalha incendiária...
Eleva te em sapiência...
O sangue une-nos...na essência congénita...

sa...cor

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O tempo...

O tempo não faz milagres, mas ajuda a esquecer a mágoa...
Não gosto de me sentir insensivel ás situações, faz me ser fria e durante muito tempo fui uma pessoa fria, ainda hoje continuo a ser...de alguma maneira...
Devia canalizar a minha frieza para aquilo que me prejudica por vezes, mas não consigo, acho que depois de ter sido mãe o meu coração transformou-se...durante muito tempo achei que ser mãe era uma coisa má, nunca pensei vir a ter filhos...hoje...ontem....depois da minha filha me ter abraçado e me ter dado um beijinho de boa noite, coisa que ela nunca tinha feito, o meu coração tremeu...
Ficou cheio de amor...e chorei...e escrevo com as lágrimas a correrem-me pela face a esta hora...porque me emociono com a escrita e com as recordações...não é vergonha chorar, ainda há dias eu e o pai dela chorámos em conjunto, porque precisávamos disso, de mandar cá pra fora o que nos magoava...e porque aprendemos a confiar um no outro, a ouvir-nos mutuamente e não ser só um a falar...conseguimos no alto da nossa amizade conquistar o respeito que nos faltava...

Acho que as crianças sentem quando os outros precisam de carinho...acho que as crianças apesar de serem extremamente crueis umas com as outras conseguem ser muito mais sinceras e directas do que os adultos...e não se importam se eles, os adultos, ficam chateados...são crianças...são puras de alguma maneira...porque sabem que têm os adultos que tratam delas e as protegem...são espertas...
Gostava de conseguir ser como as crianças...assim...muitas vezes...mas cresci e cada dia que passa cresço mais...por dentro...e observo a minha mudança...no entanto se há algo que eu não posso mudar é a minha natureza, o que já nasceu comigo...o resto é moldável...e o tempo faz me cada dia que passa ser mais adulta...mais compreensiva....mais activa...mais sensata...mais confiante...mais mulher...
Estou a aprender a gostar mais de mim e não a mandar cá pra fora o que os outros querem ver, não posso, não seria honesto...e já menti durante muito tempo a mim mesma...e aos outros...e isso magoa-me...e magoei muita gente que não merecia...

Gostava de recuperar o tempo perdido...mas isso tem tempo de se recuperar, a não ser que morra já amanhã...bem...se for essa a minha sina...que remédio...ahahaha...mas não acredito...sinto que a missão que tenho na terra ainda não acabou...sou muito sensitiva e algumas vezes intuitiva...estava apagada apenas...mas consegui desenvolver a minha parte sensivel...sozinha...no meio da natureza...em contacto com a terra, com o ar, o fogo, a água e assim elevei o meu espirito...ainda tenho mais para desenvolver...

Somos feitos de terra, um dia voltaremos a fazer parte dela...somos água e por isso precisamos de hidratar o nosso interior, lavá-lo...somos ar...quando temos por vezes atitudes voláteis como o vento e somos fogo porque em nós...Homens...reside a paixão de sermos melhores, eu penso assim, para comigo...

É isso que faz de mim ser uma guerreira, a mulher que deixou de ter medo de si própria, porque a guerrilha urbana eu conheço de cor, vivi lá, guerreira mulher que aprende com o que já passou na vida...porque tinha de acontecer...talvez...para aprender a não ser a mesma...e isso vai estar sempre a acontecer...a errar.. a aprender...e essencialmente aprender a cair...porque sem isso não existe luta, não existe alma...não existe força...

Quero que o tempo não seja muito cruel comigo, pois aprendi a gostar muito dele...lembro-me de mim quando era mais livre...e inconsciente...não era uma mulher ponderada, era impulsiva...pensava mais com o coração do que com a cabeça ou então...não pensava...e hoje... consigo entender aos poucos a razão da minha impulsividade...a vontade de crescer depressa, a vontade de conhecer o mundo, as pessoas, sair daquela redoma de vidro onde me quiseram aprisionar a encarcerarem me a cabeça, as ideias, com fantasias de que o mundo é perfeito, fruto da minha educação conservadora e repressiva.

Não se pode crescer depressa porque o tempo não deixa...o tempo é o tempo...e esse é soberano...





quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Espirito Santo de Orelha...

mais vulgarmente conhecido por "ninhos" ou emprenhamento auditivo!

Custa-me aceitar pessoas que se aproveitam das outras nos seus momentos de fragilidade e não são assim tão poucas quanto isso! Acho que quase todos nós já passámos por situações dessas...
Interroguei-me a mim mesma se isso não seria apenas inveja, ciúme ou pura maldade, um dia hei-de descobrir, com paciência...
Não tenho pressa!

Custa-me aceitar que afinal quem é ou diz que é isento de palpites se deixe cair por vezes nas garras das influências, da manipulação... mais um bocadinho e abrem uma urna de voto! "Votem em mim, sou tod@ poderos@! Sou eu quem detenho a razão, vão por mim, senhores, eu (d)par vos ei a paz!" -  fazem-me lembrar aqueles pastores de igreja que querem a todo o custo convencer os fieis de que aquela religião é suprema e única.
Cheira-me a pseudo burgueses...patrocinados por burgueses...oportunistas da desgraça alheia e eu não quero nada com essa gente...não quero cá misturas...desprezo é pouco...chamem-me arrogante, quero lá saber!

Um dia destes andei a investigar sobre serpentes, gosto de fazer analogias humanóides aos bichos e vice versa. No fundo vivemos todos no mesmo "reino" onde o Homem infelizmente continua a ter um papel predador.

Há pessoas que parecem peixes quando esbugalham os olhos, há outras que parecem cordeirinhos quando vêm com falinhas mansas, os que parecem cãezinhos quando nos dizem que são fieis, os que parecem leões no alto da sua presunção, os que parecem lagartos nas suas exibições e há outras que são autenticas aves de rapina quando querem a todo o custo açambarcar para si tudo o que pode ser de todos, os abutres, todas as outras aves de rapina são demasiados nobres para serem comparados com tamanha vergonha de seres humanos, os abutres comem animais podres, decompostos e normalmente cheiram mal se não usarem perfume...são os que comem restos...restos de almas...de necessidades...de oportunidades...de fragilidades...no fundo são os que fazem este sistema ser a merda que é...e desviam os outros do seu caminho...em prol da sua conveniência...

Gosto de todos, no entanto adoro pássaros e...cobras. Não sei se terá a ver com os convencionalismos astrológicos, mas a mim calhou me o signo da serpente no horóscopo chinês e as serpentes são...

Astutas...calculistas, esguias, algumas são nocturnas, subtis, observadoras, agéis, aventureiras, excelentes caçadoras e muitas são venenosas...e pacientes, engolem a presa por inteiro, para não deixar sequer uma unha para contar história, assim não deixam testemunhas e algumas sufocam os seus triunfos. Em suma, comparadas aos humanos, poderiam na minha opinião, serem uma especie de Mata-Hari, capazes de cometerem "o" crime perfeito...Adoro cobras, principalmente as cascaveis que detêm um guizo na ponta, quanto maior o guizo, maior a sapiência, usam-no para darem sinal da sua perigosidade, atacam em situações de ameaça ou de provocação ou quando têm fome...

Durante muito tempo como as serpentes abri a boca não para comer, mas para tentar avisar sobre muita coisa, para me tentarem ouvir, mas por vezes fui e por vezes continuo a ser mal interpretada, nem sempre, mas...nunca agi para influenciar, porque acho que as pessoas têm uma cabeça e nela existe um cerebro que as faz tomar decisões imparciais por muito que haja alguém que possa aconselhar ou encaminhar...quem me conhece, sabe muito bem como funciono, mas...vou me resignar ao silêncio... e deixar de fazer uma quantidades de coisas que inconscientemente tive o desprazer de fazer em prol dos outros, vou deixar correr, talvez um dia me calhe um boi ou uma vaca, um abutre ou até mesmo um elefante para deglutir ou para morder de uma vez e depois eu quero ver...como tudo corre... posso sempre sofrer uma pequena indigestão, mas nada poderá ser comparado com a azia que os abutres me provocam...mas isso...é só morder um cubo de açucar!

Quem te avisa....não te influencia...faz te pensar e é teu amigo...




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A droga!

A droga é um nojo, faz-nos ficar sem cabeça, sem alma, faz-nos ser algo que não somos, camufla a nossa dor, mas não a afasta...
A droga faz-nos mentir...
A droga fez-me mal, o consumo exagerado, mas não destruiu o meu interior...apenas o tingiu de outra cor...e agora estou a tentar lavá-lo...longe...e não tenho medo de o dizer...
Nunca me poderia deixar degradar ao ponto de ter de me subjugar aos caprichos dos dealers ou de outra escória qualquer que se aproveitasse da minha necessidade para abusar de mim...

Mas não posso ser imune à droga, posso ser imune a muita coisa, mas à droga não, até porque a droga pode ter vários fins, conceitos, propósitos...até as coisas e as pessoas podem ser uma droga! E só quem passa por isso é que sabe...

Um dia disseram-me que não era eu a pessoa que aparento...por causa da droga.
Um dia disseram-me que podia ser uma pessoa diferente...por causa da droga.
Um dia disseram-me que sem droga podia ser uma pessoa melhor...experimentei...mas não é a droga que me faz ser diferente ou melhor, sou eu que posso fazer essa diferença com ou sem ela...a droga...


Gostava de poder ser uma pessoa melhor, mas acho que não sou...sou uma víbora, quando quero e da pior especie...e odeio e quando odeio, viro monstro... aliás eu acho que sou um monstro, por isso gostava de poder ter uma casa no fim do mundo lá para os lados do polo Norte ou do polo Sul, para poder viver no frio, para poder congelar o meu coração, o meu corpo e só acordar daqui a mil anos quando todos os que conheço já tivessem morrido, gostava de poder viver só comigo, egoisticamente, sem mais ninguém por perto...porque assim podia ser eu sem ter que me relacionar com os outros, sem que me dissessem como fazer as coisas, sem que ninguém me fodesse o juízo, sem que me dissessem "isto tá mal, isto tá bem" seria eu, pura, na minha essência... solidão... e aprenderia à minha custa...fosse como fosse...mas era eu que o faria... e assim aprenderia a viver...sem imposições, sem regras, sem controle, apenas eu, sem nada... quando se consegue viver do nada, deixamos de ser humanos, vivemos como alquimistas e era isso que eu gostava de ser...uma alquimista.

E fugiria desta podre sociedade que todos me querem impôr como certa, que me querem impôr como decente, como correcta, como ordeira, como lixo, como um quadro lindo de Van Gogh como se tudo fosse assim tão simples...

Não como lixo...como o que eu achar que tenho de comer...que me sacie a alma, me eleve a face...

Não quero ser diferente só porque os outros são, quero ser eu, com os meus defeitos que são mais do que as minhas qualidades...e  não quero nem tenho de ser social...quero ser como tenho de ser...e quem ache que isto é mau, não é meu amigo...

Fugir para a Antarctida não me serviria de nada, apenas iria fazer com que mais tarde ou mais cedo quisesse voltar à merda do costume... a ter de olhar para as mesmas caras caso não tivesse conseguido congelar-me...

Tenho raiva, tenho, odeio muitas vezes toda a gente, por vezes até a minha própria filha e todos os que me são próximos porque não quero ouvir, não quero...sentir...não quero aceitar que me amam...de alguma maneira...

Odeio quando dizem ou me tentam mostrar que me amam...porque não acredito que isso seja possivel...não quero...o amor faz-me mal...odeio amar...e que me amem...cegam-me e eu gosto de andar com os olhos bem abertos...por muito que me continuem a dizer que estão fechados...por causa da droga...

A droga não me fez ficar dependente, fez me antes acordar para outra realidade que muitos julgam ser uma coisa ruim...e em certo ponto...até é, mas...felizmente não preciso de drogas..preciso de mim...

Odeio mais ter de precisar dos outros...em muitos sentidos, faz me sentir dependente...gostava de poder ser como Deus se ele existisse...